Páscoa

A noite era madrasta e previsível. Suor em sangue denotava a gravidade do que se aproximava. Outros dormiam, ele orava. Pedia saída mas dispunha-se e confiava. A aflição não o abandonava. Sabia desde há muito; tinha vindo com esse propósito. Temia o vitupério do Maior Nome. Traído por trinta moedas e um falso beijo. Prestes a ser preso restabelece, milagrosamente, a orelha cortada ao escravo do sumo sacerdote que o acusava.

Qual de nós o faria? Ninguém.

Carne rasgada em horas cuspidas, chicoteadas e marteladas até à estaca de tortura. Coroa de espinhos, enterrada, escarnece-o. Madeiro padrasto cravado em Golgotá; inocente entre criminosos encaixado. Em extrema dor pede ao Pai que perdoe os soldados, pois estes “não sabem o que fazem”. E não sabiam.

Mas, qual de nós o faria? Ninguém.

Como mãe, sinto um murro no peito só de imaginar a dor de Maria, que assiste à violenta morte do seu querido filho.

Sacerdotes mentirosos que em vez de defenderem, acusam, instigam e matam. Romanos que seguem a ordem de Pilatos para a inscrição na madeira: “Jesus, o Nazareno, Rei dos judeus”, mostrando assim o desprezo deste governador pelos judeus, que afinal mataram o Seu Salvador.

Gratidão é o mínimo que devíamos demonstrar por tal ato de amor altruísta. Deu a vida por todos para que todos aqueles que nele exerçam fé possam ter vida eterna.

Qual de nós o faria? Ninguém. Só o maior homem que já viveu.

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