Fechou abruptamente as grades, premiu o botão, virou-se, agarrou-a e encostou-a à parede do elevador. As mãos firmes subiam pelas coxas, ancas, cintura, costelas e lateral do peito, onde se demoraram. O vestido sentiu-se enxovalhado. O coração cavalgou disparado. Seguiram caminho pelos braços, elevados acima do carrapito despenteado, onde lhe prendeu as mãos nas suas. […]
Quem nunca?
Já passava das duas; tinha jurado nunca mais lhe ligar, mas os vodkas acumulados sussurravam-lhe o contrário. O bar repleto de gente desconhecida, que parecia entretida e feliz; um ou outro bêbedo que, de vez em quando, se aproximava com falinhas mansas, com o intuito d’arrastar dali; o aperto no peito que aumentava, a cada
Mil vidas
Tenho dentro de mim Mil vidas vividas E tantas outras por gozar Curiosidade infantil Imaginação de criança Mantenho-as vivas Porque é na essência do parto Que me quero manter Para todas as aventuras Poder realmente ser Não uma, mas várias Todas as que me apetecer Não deixarei o sonho morrer Porque podemos ter Tantas ou
Ela voava só Anjo puro planava Via o mundo inteiro Amor infinito espalhava Atiravam-lhe pedras Tentavam derrubá-la Como se nada a atingisse Incansável continuava Desviava-se e deixava Que o mal ficasse em terra Não queria magoar ninguém Podia fazê-lo Tinha poder para tal Mas a sua essência Era feita do melhor material À prova de
Finjo acreditar e permito-me embalar na tua conversa meiga. Vais-me conduzindo na tua Harley. Deixo a brisa entreter-se com os meus cabelos. Sorrio. Gosto de ver até onde vai a imaginação e a persuasão humana. De vez em quando, concordo que os meus braços te envolvam. Sei que te faz sentir homem. Paramos para um
Mentiras escancaradas Em processos obsoletos Leis feitas por alfaiates Antecedendo os esqueletos Daqueles que ficam De mãos atadas a ver Incrédulos com tanta impunidade De tantos amigos corromper Riem, comemoram Sem vergonha de atiçar Orgulhosos de si E de uma nação inteira enganar Continuem a roubar Que nós pagamos Mas cuidado a semear O Zé
O cheiro a café abraçava o espaço e fazia-a despertar com um sorriso. Espreguiçava-se sentindo aquele aroma caseiro que tanto adorava. Precisava daquele líquido como se de um vício se tratasse. A mãe sabia e fazia questão de lhe preparar o néctar com todo o amor. Isso tornava-o diferente dos outros. Aqueles grãos eram iguais
Páscoa
A noite era madrasta e previsível. Suor em sangue denotava a gravidade do que se aproximava. Outros dormiam, ele orava. Pedia saída mas dispunha-se e confiava. A aflição não o abandonava. Sabia desde há muito; tinha vindo com esse propósito. Temia o vitupério do Maior Nome. Traído por trinta moedas e um falso beijo. Prestes