Sara B. Carvalho

Fechou abruptamente as grades, premiu o botão, virou-se, agarrou-a e encostou-a à parede do elevador. As mãos firmes subiam pelas coxas, ancas, cintura, costelas e lateral do peito, onde se demoraram. O vestido sentiu-se enxovalhado. O coração cavalgou disparado. Seguiram caminho pelos braços, elevados acima do carrapito despenteado, onde lhe prendeu as mãos nas suas. […]

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Quem nunca?

Já passava das duas; tinha jurado nunca mais lhe ligar, mas os vodkas acumulados sussurravam-lhe o contrário. O bar repleto de gente desconhecida, que parecia entretida e feliz; um ou outro bêbedo que, de vez em quando, se aproximava com falinhas mansas, com o intuito d’arrastar dali; o aperto no peito que aumentava, a cada

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Mil vidas

Tenho dentro de mim Mil vidas vividas E tantas outras por gozar Curiosidade infantil Imaginação de criança Mantenho-as vivas Porque é na essência do parto Que me quero manter Para todas as aventuras Poder realmente ser Não uma, mas várias Todas as que me apetecer Não deixarei o sonho morrer Porque podemos ter Tantas ou

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Ela voava só Anjo puro planava Via o mundo inteiro Amor infinito espalhava Atiravam-lhe pedras Tentavam derrubá-la Como se nada a atingisse Incansável continuava Desviava-se e deixava Que o mal ficasse em terra Não queria magoar ninguém Podia fazê-lo Tinha poder para tal Mas a sua essência Era feita do melhor material À prova de

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Finjo acreditar e permito-me embalar na tua conversa meiga. Vais-me conduzindo na tua Harley. Deixo a brisa entreter-se com os meus cabelos. Sorrio. Gosto de ver até onde vai a imaginação e a persuasão humana. De vez em quando, concordo que os meus braços te envolvam. Sei que te faz sentir homem. Paramos para um

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Mentiras escancaradas Em processos obsoletos Leis feitas por alfaiates Antecedendo os esqueletos Daqueles que ficam De mãos atadas a ver Incrédulos com tanta impunidade De tantos amigos corromper Riem, comemoram Sem vergonha de atiçar Orgulhosos de si E de uma nação inteira enganar Continuem a roubar Que nós pagamos Mas cuidado a semear O Zé

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O cheiro a café abraçava o espaço e fazia-a despertar com um sorriso. Espreguiçava-se sentindo aquele aroma caseiro que tanto adorava. Precisava daquele líquido como se de um vício se tratasse. A mãe sabia e fazia questão de lhe preparar o néctar com todo o amor. Isso tornava-o diferente dos outros. Aqueles grãos eram iguais

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Não sei de onde vem Esta difusa insatisfação Nem sempre presente Mas que me deixa ausente De mim, de ti Do que tenho Do que quero E tenho tanto Quero mais Mais o quê? Nem sei Já tenho tudo Quer estar e quero ir Mergulhar e voar Apregoar e calar Estagnar e fluir Quero o

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Normalmente, vemos o mundo e os outros segundo o nosso vitral. Uns têm-no mais colorido e limpo, outros mais baço, escuro ou até rachado. Quem tem a sua visão mais bela e pura vê também essa beleza e brilho ao redor. Outros, veem a preto e branco ou são mesmo cegos. Na mente. Têm o

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Páscoa

A noite era madrasta e previsível. Suor em sangue denotava a gravidade do que se aproximava. Outros dormiam, ele orava. Pedia saída mas dispunha-se e confiava. A aflição não o abandonava. Sabia desde há muito; tinha vindo com esse propósito. Temia o vitupério do Maior Nome. Traído por trinta moedas e um falso beijo. Prestes

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