Tudo o que eu quero é fazer amor contigo

⁃ Por favor, entende, estava apaixonada por outro homem…

Naquela noite chuvosa, a tempestade que se abatia obrigou-a a sair da estrada. Viu umas luzes acesas e encostou. Correu para dentro do bar para se aquecer e esperar que passasse.

Sentou-se numa mesa e pediu um café americano. A noite ia ser longa, ainda estava longe de casa.

Um homem, de casaco cabedal e cabelo pelos ombros, era a única pessoa sentada ao balcão. De vez em quando virava a cabeça e olhava para ela. Tinha olhos de um azul profundo como a trovoada que desabava no céu, lá fora.

Passado pouco tempo, levantou-se, aproximou-se e perguntou se lhe podia fazer companhia. Assentiu.

A conversa fácil rapidamente tornou-se atraente e quente. O calor subia a cada sorriso, a cada gargalhada. A cumplicidade sabia a anos de conhecimento prévio. Quem os visse, ninguém diria que eram perfeitos estranhos.

As mãos iniciaram o toque; primeiro, subtilmente, depois de forma mais descarada e por fim com arrojo, expressando toda a vontade.

O motel, ao lado do bar, serviu para consumar o desejo crescente. Fizeram magia a noite toda. Ele trouxe ao de cima a mulher que existia nela, vezes sem conta.

De manhã, ela deixou-lhe um bilhete: “Não me procures.”

Poucos anos depois, cruzaram-se. Ele olhou para ela e para o menino que lhe dava a mão. Tinha olhos azuis mais profundos que o oceano e o céu juntos.

Confrontou-a. Ela respondeu:

⁃ Por favor, entende… estou apaixonada por outro homem, e a única coisa que ele não me podia dar, tu deste. Numa única noite de paixão, de amor… amor entre estranhos. Perdoa-me. Tudo o que eu queria era fazer amor contigo.

Microconto baseado na música “All I want to do is make love to you”, das Heart.