
Aquele agosto, quente e abafado, marcou a vida dos dois.
Não havia forma de passar os dias que não fosse junto ao rio. A água fresca e as sombras abundantes convidavam todos a escapar do calor. As brincadeiras, piqueniques e música faziam, daquelas tardes, o aconchego de um ano inteiro.
A vila estava cheia, todos regressavam, naquele mês, à terra do coração.
A feira, de manhã, junto à ponte, enchia o centro, os feirantes apregoavam os seus produtos, o cheiro a bifanas e a couratos perfumava o ar, e a calma do rio, durante a tarde, preparava os visitantes para a noite.
Festas e folias não faltavam, espalhadas por várias localidades. A música popular e os bailaricos alegravam os serões e era por esse momento que os dois mais ansiavam.
Dois anos antes, ainda crianças, apenas brincavam. Agora, os corpos tinham-se desenvolvido e a amizade tinha outro sabor.
Maria tinha 15 anos e Tiago 16.
A troca de olhares, risinhos e jogos, ao longo das tardes no rio, aqueciam-lhes o coração, que à noite batia mais forte.
Escapavam das famílias, com a desculpa de aproveitar o baile junto dos seus pares. Toda a “moçanhada” fazia o mesmo. Afinal de contas, muitos só se viam de ano a ano e com a pandemia havia saudades acumuladas.
Esgueiravam-se, depois, os dois, para trás da igreja. Ali, no escuro, as bocas encontravam-se e trocavam juras de amor em silêncio; as mãos ocupavam-se do corpo e ela suspirava. Antes das férias terminarem, o inevitável aconteceu. Pertenceram-se. O fogo de artifício explodia no céu estrelado e eles também.
O colo dele, desenvolvido pela natação e basquetebol, sabia-lhe a conforto e a segurança, o cheiro suave, a roupa lavada, ficava colado à pele de Maria. Os cabelos dela envolviam-no como algas que se enlaçam e já não largam. Nunca tinham vivido nada igual. Nunca mais seriam os mesmos.
Tiago vivia numa aldeia, não muito longe da vila; Maria vivia na Suíça com a família.
Só voltariam a ver-se no verão seguinte e, até lá, ninguém sabia o que podia acontecer.
As lágrimas rolaram, os abraços foram mais apertados que nunca e a promessa de manter o contacto sabia a sopa fria.
Maria não queria ir, Tiago queria guardá-la para sempre.
Nesse verão, a despedida foi lenta, e mais dolorosa que nunca, o mês fugiu rápido demais.