A lua é a única luz que lhe guia os saltos

As pedras da calçada as únicas que a ouvem

As estrelas testemunham as rugas

As madrugadas são madrastas

Mas são o único ganha pão

Deixa as crianças a dormir, à guarda da escuridão

As sombras perseguem-na

O corpo gasto quer descanso

Não pode

Os predadores saem das tocas

Sente-lhes o cheiro

Olha para o relógio

Faz as contas

Pensa no dia seguinte

Imagina uma onda do mar

que a congela por dentro

e por fora

Olha para as unhas enquanto

reza para que seja rápido

e venha o próximo

A renda está em atraso

Os miúdos precisam de comer

E ela… ela não é ninguém

Limita-se a sobreviver

Sem saber bem porquê

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